quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

DEPRESSÃO PÓS-PARTO

Não falarei sobre o que acham os médicos. Nem me atreverei a dizer como fazer para evitar a depressão pós-parto. Isto é para os especialistas. Falarei sobre o que as pessoas sentem e sofrem.
Ouve-se falar muito sobre a depressão pós-parto. Fala-se em mães que ficam deprimidas por pouco tempo e aquelas que têm depressão por um longo período. Essas, às vezes, precisam ser internadas para não colocar em risco a vida de seu bebê. Existem também, aquelas mães que não apresentam sintoma algum.
O que faz com que essas mães tenham reações tão diferentes? Isso para mim é um enigma.
Passei por dois partos. No primeiro, tive a chamada depressão. Mas era tão pouco nítida que consegui superá-la sem que eu me desse conta. Nesses momentos, o que eu sentia era uma mescla de angústia e felicidade por aquele ser tão pequeno. Costumava fazer comparações entre meu bebê e as formigas. Aí vinha a ANGÚSTIA, porque eu imaginava que aquele ser tão pequeno e indefeso podia ser facilmente esmagado pelos pés de alguém. Quando meu bebê começava a gritar cheio de fome ou dor, imediatamente meus instintos maternos afloravam, meus pensamentos mudavam de rumo e eu corria a atender suas necessidades. Sentia muito orgulho de poder ajudá-lo. Aí vinha a FELICIDADE. Felicidade, orgulho e incredulidade por ter carregado, durante longos nove meses, esse serzinho em minha barriga. Não conseguia acreditar que eu havia feito um ser humano. Essa mistura de sentimentos me causava muita confusão, o que gerava insegurança e, por conseqüência a depressão.
Quando meu segundo bebê nasceu, tudo passou na maior tranqüilidade, sem nenhum sentimento negativo.
Assim, posso dizer que passei pelos dois lados da moeda. Tive o lado de duas mães: a que teve depressão e a que não teve. Mas, de qualquer maneira, cada um é diferente. O meu sentimento não se compara ao sentimento do próximo. O que eu sinto de um jeito, é sentido de outra forma por outra pessoa. Uns com mais intensidade e outros com menos.
E foi pensando nisso que procurei uma mãe com depressão pós-parto para que ela pudesse me dar uma noção do que realmente sentia. Veja abaixo seu relato:

“Nestes últimos dias, semanas, talvez, tenho tentado estabelecer uma luta muito grande contra tudo de ruim que há em mim, uma luta contra a ansiedade, contra a insuportável presença constante de mim mesmo ao meu lado, contra as minhas maiores fraquezas que nunca estiveram tão à flor da pele, contra  esses pensamentos mórbidos... Sem o cuidado de não me deixarem em paz... Os obstáculos que eu mesma crio... Mas, curiosamente, também vem do outro a alegria e a beleza que invade o coração, que aquieta os mares turbulentos. Olho meu bebê tão lindo e tão frágil nesse mundo assustador que eu me sinto assim: com a insustentável leveza de ser mãe... de protege-lo ,de coloca-lo numa redoma de vidro ,este raciocínio é tão sem lógica, tão surreal mais que está presente em minha mente todo segundo me sugando a alegria ,a doce alegria de ser mãe: "Sim", disse também baixinho meu coração à minha cabeça. E essa dicotomia me dilacera. Talvez tornar-se o que se é, ou inventar quem se é, é um caminho doído, sofrido, percorrido em estrada de espinhos, mas é sempre uma ponte frutífera para a vida, para amadurecer talvez. Como diria Renato Russo: "Vivo feliz, tenho amor, tenho um desejo, tenho coragem e sei quem eu sou... eu tenho um segredo e uma oração” Meu segredo é esse pensar coisas ruins o tempo todo, com medo do meu bebê e a coisa boa que eu tenho sempre uma oração pra toda luz do universo iluminar seu caminho. Pois tenho amor sem limites.”
Daniela Paim

Finalmente, depois de ler esse relato, cheguei à conclusão de que todas as mães são iguais. Umas com sentimentos mais intensos, outras menos. Mas, no final, são todas iguais quando se trata de seus filhos. O amor é mais forte que a depressão.
Para mim, continua um enigma essa diferença de sentimentos de mães recém paridas. É um mistério a depressão aparecer em algumas mães e não aparecer em outras. Seria algum reflexo do passado? Não sei. O que eu sei é que a depressão pós-parto é passageira. E para que ela seja amenizada, é preciso que esse sentimento não seja guardado só para si. É preciso compartilhar com amigos e familiares. Dizer-lhes o que você está sentindo e se o peso for muito grande, pedir socorro. Ninguém peca por pedir ajuda, pois com certeza se a pedir a encontrará.
Um grande abraço.

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