Não
falarei sobre o que acham os médicos. Nem me atreverei a dizer como fazer para
evitar a depressão pós-parto. Isto é para os especialistas. Falarei sobre o que
as pessoas sentem e sofrem.
Ouve-se
falar muito sobre a depressão pós-parto. Fala-se em mães que ficam deprimidas
por pouco tempo e aquelas que têm depressão por um longo período. Essas, às
vezes, precisam ser internadas para não colocar em risco a vida de seu bebê.
Existem também, aquelas mães que não apresentam sintoma algum.
O
que faz com que essas mães tenham reações tão diferentes? Isso para mim é um
enigma.
Passei
por dois partos. No primeiro, tive a chamada depressão. Mas era tão pouco
nítida que consegui superá-la sem que eu me desse conta. Nesses momentos, o que
eu sentia era uma mescla de angústia e felicidade por aquele ser tão pequeno.
Costumava fazer comparações entre meu bebê e as formigas. Aí vinha a ANGÚSTIA, porque eu imaginava que
aquele ser tão pequeno e indefeso podia ser facilmente esmagado pelos pés de
alguém. Quando meu bebê começava a gritar cheio de fome ou dor, imediatamente
meus instintos maternos afloravam, meus pensamentos mudavam de rumo e eu corria
a atender suas necessidades. Sentia muito orgulho de poder ajudá-lo. Aí vinha a
FELICIDADE. Felicidade, orgulho e
incredulidade por ter carregado, durante longos nove meses, esse serzinho em
minha barriga. Não conseguia acreditar que eu havia feito um ser humano. Essa
mistura de sentimentos me causava muita confusão, o que gerava insegurança e,
por conseqüência a depressão.
Quando
meu segundo bebê nasceu, tudo passou na maior tranqüilidade, sem nenhum
sentimento negativo.
Assim,
posso dizer que passei pelos dois lados da moeda. Tive o lado de duas mães: a
que teve depressão e a que não teve. Mas, de qualquer maneira, cada um é
diferente. O meu sentimento não se compara ao sentimento do próximo. O que eu
sinto de um jeito, é sentido de outra forma por outra pessoa. Uns com mais
intensidade e outros com menos.
E
foi pensando nisso que procurei uma mãe com depressão pós-parto para que ela
pudesse me dar uma noção do que realmente sentia. Veja abaixo seu relato:
“Nestes últimos dias, semanas, talvez, tenho
tentado estabelecer uma luta muito grande contra tudo de ruim que há em mim,
uma luta contra a ansiedade, contra a insuportável presença constante de mim
mesmo ao meu lado, contra as minhas maiores fraquezas que nunca estiveram tão à
flor da pele, contra esses pensamentos
mórbidos... Sem o cuidado de não me deixarem em paz... Os obstáculos que
eu mesma crio... Mas, curiosamente, também vem do outro a alegria e a beleza
que invade o coração, que aquieta os mares turbulentos. Olho meu bebê tão lindo
e tão frágil nesse mundo assustador que eu me sinto assim: com a insustentável
leveza de ser mãe... de protege-lo ,de coloca-lo numa redoma de vidro ,este
raciocínio é tão sem lógica, tão surreal mais que está presente em minha mente
todo segundo me sugando a alegria ,a doce alegria de ser mãe: "Sim",
disse também baixinho meu coração à minha cabeça. E essa dicotomia me dilacera.
Talvez tornar-se o que se é, ou inventar quem se é, é um caminho doído,
sofrido, percorrido em estrada de espinhos, mas é sempre uma ponte frutífera para
a vida, para amadurecer talvez. Como diria Renato Russo: "Vivo
feliz, tenho amor, tenho um desejo, tenho coragem e sei quem eu sou... eu tenho
um segredo e uma oração” Meu segredo é esse pensar coisas ruins o tempo todo,
com medo do meu bebê e a coisa boa que eu tenho sempre uma oração pra toda luz
do universo iluminar seu caminho. Pois tenho amor sem limites.”
Daniela Paim
Finalmente,
depois de ler esse relato, cheguei à conclusão de que todas as mães são iguais.
Umas com sentimentos mais intensos, outras menos. Mas, no final, são todas
iguais quando se trata de seus filhos. O amor é mais forte que a depressão.
Para
mim, continua um enigma essa diferença de sentimentos de mães recém paridas. É um mistério a depressão aparecer em algumas mães e não aparecer em outras. Seria algum reflexo do passado? Não sei. O que eu sei é que a depressão pós-parto é passageira. E para
que ela seja amenizada, é preciso que esse sentimento não seja guardado só para
si. É preciso compartilhar com amigos e familiares. Dizer-lhes o que você está
sentindo e se o peso for muito grande, pedir socorro. Ninguém peca por pedir
ajuda, pois com certeza se a pedir a encontrará.
Um
grande abraço.
Nenhum comentário:
Postar um comentário